Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Professores querem apressar julgamento do piso no STF

2 DE ABRIL DE 2009 - 16h06

Valdirene Berredo, professora de inglês do ensino médio em Valparaíso de Goiás, com 17 anos de profissão, recebe R$542,34 de salário. Ela, vestida com camiseta preta onde se lia “O Piso é lei. Faça valer. Eu não abro mão”, engrossava o grupo de manifestantes em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde desta quinta-feira (2), em Brasília. O ato faz parte de uma série de ações dos professores para exigir o julgamento do mérito da ação movida pelos governadores, considerados “Inimigos da educação e traidores da escola pública”, contra a lei do piso salarial.
Manifestantes usavam camisetas da campanha
A lei, aprovada pelo Congresso no ano passado, estabelecendo o piso salrial de R$950,00, foi questionada como inconstitucional por cinco governadores - Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Ceará.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e os sindicatos nos estados reuniram um grupo de cerca de 500 professores para o ato em frente ao Supremo. Com faixas, cartazes e vestidos com as camisetas pretas da campanha pelo piso salarial, eles lembravam que a luta pela implementação do piso salarial é a luta pelo ensino de qualidade.
Para Heleno Araújo, secretário de Assuntos Educacionais da CNTE, “nós só teremos uma escola de qualidade se valorizarmos e estimularmos os professores”, destaca. O piso beneficia aproximadamente 800 mil professores do ensino público infantil, fundamental e médio de escolas federais, estaduais e municipais.
Além dos estados que não cumprem a lei do piso, a categoria identifica outro problema nos estados que dizem seguir a nova lei: é que as vantagens pessoais são incorporadas ao vencimento básico para chegar ao mínimo de R$950. “Isso é um absurdo. A renda dos profissionais vai diminuir e muitos ganhos de carreira serão extintos se não tomarmos uma atitude”, diz o presidente da CNTE, Roberto Leão.
Após a manifestação, um grupo de representantes da CNTE e parlamentares foi recebido pelo Secretário Geral do Supremo, Luciano Felício Fuck, a quem entregaram o pedido que deve ser encaminhado ao presidente do Supremo, Gilmar Mendes, cobrando rapidez no julgamento do mérito da Ação contra a Lei do Piso.
Em dezembro, o STF considerou a lei do piso constitucional, mas suspendeu o parágrafo 4° do artigo 2°, que prevê a destinação de 1/3 da jornada semanal para atividades extraclasse. Os ministros decidiram que, a partir de 1° de janeiro de 2009, os professores não poderiam receber menos de R$950,00 como salário-base. Isso já deveria estar vigorando desde 1o de janeiro deste ano, mas não é o que vem acontecendo. Heleno Araújo diz que 17 estados não estão cumprindo com o vencimento inicial de R$950,00.
Também nesta quinta-feira pela manhã, os professores participaram de reunião conjunta com a Comissão de Educação da Câmara e a Frente Parlamentar em Defesa do Piso dos Professores para discutir a implementação do piso salarial. A coordenadora da Frente Parlamentar, deputada Fátima Bezerra (PT-RN), disse esperar que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue logo a ação e reverta a decisão de incluir as gratificações dos professores no cálculo do piso salarial da categoria.
Greve inevitável
Nesta sexta-feira (3), também em Brasília, o Conselho Nacional de Educação se reúne para decidir sobre a data da greve e o tempo que os professores ficarão de braços cruzados. A medida é vista como a única solução encontrada pela categoria frente ao desrespeito de estados e municípios com a nova lei do Piso.
O piso também será o centro das discussões da 10ª Semana Nacional de Educação que será realizada entre os dias 20 e 24 deste mês para debater assuntos relacionados à política educacional. Durante as conferências escolares, a comunidade escolar e a sociedade em geral se unem para apresentar propostas visando a construção de novas relações sociais na escola e de políticas públicas que garantam a plena cidadania.
O evento vai discutir ainda outros temas como a crise econômica mundial, gestão democrática, currículo, carreira, formação e valorização dos profissionais da educação, financiamento e fundeb e direito à educação pública. Todas as propostas apresentadas serão apreciadas durante a Conferência Nacional da Educação Básica, a ser promovida pelo MEC em abril do ano que vem, e nos processos de elaboração do novo Plano Nacional de Educação.

De Brasília Márcia Xavier

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