Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


segunda-feira, 23 de maio de 2011

Parabéns à Prof. Amanda!!!

A Prof. Amanda conseguiu traduzir de forma clara e direta os anseios e descaminhos dos professores enquanto profissão de grande valor e significado para a sociedade, mas que está sendo maltratada pelas políticas educacionais em nosso país.

Os transtornos não são causados só aos salários, sobrevivência e saúde dos professores e sim a toda a sociedade brasileira que amarga o analfabetismo, os baixos níveis de ensino e a desqualificação profissional dos trababadores.

Sem a valorização dos seus profissionais e educação de qualidade não haverá um verdadeiro desenvolvimento.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Agora o piso salarial é vinculado aos vencimentos da carreira

De acordo com a votação do STF pela constitucionalidade do Piso Salarial Nacional, as gratificações ou vantagens não podem mais serem incluídas nos vencimentos. O Piso de R$ 1.187,97 agora é salário base. Mas este valor se destina à carga horária de 40 horas semanais. A carga horária do RN é de 30 horas, por isso o valor do Piso no Estado é proporcional. Segundo a CNTE, a referência máxima de 40 horas para a percepção do Piso, não impede que os Estados paguem o salário base de R$ 1187,97 para as cargas horárias de 20h, 25h e 30h. Resta ao magistério do Rio Grande do Norte lutar firmemente pelo piso legal, no mínimo.
A CNTE reivindica 1597,87 para o Piso do magistério. Esse é o mínimo que o magistério merece para ser valorizado. Segundo matéria publicada na Revista Nova Escola do mês de abril de 2011, os salários médios dos professores são inferiores aos de outras profissões do mesmo nível de formação.

domingo, 7 de novembro de 2010

CALEM A BOCA, NORDESTINOS!

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.


Mas a motivação para que esse texto fosse escrito foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter:



"Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".


Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA.


E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!


Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...
Ah! Nordestinos...
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”



Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

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Pedro Junior
Geógrafo - CREA/RN: 2107854874
Mestrando em Engenharia Sanitária e Ambiental
Telefones de Contato
(84) 3605-6817 Casa - 8817-2927 Cel.

E a educação, como fica no Governo Dilma?

Após a eleição de uma mulher aguerrida e comprometida em acabar com a miséria, quais as propostas concretas capazes de resolver essa vergonha nacional que é a educação brasileira?
Estamos ouvindo falar, muito justamente, em saúde e segurança. Mas a educação não está entre as prioridades?
Não dá mais para os brasileiros conviverem passivamente com crianças analfabetas frequentando a escola regularmente e professores desmotivados, sem o direito efetivo a um Piso Salarial de verdade, uma carreira digna e tempo para produção prática e teórica.
O fracasso educacional afeta a todos os setores da sociedade. Está na hora de se promover uma campanha em defesa da educação com a participação não só de professores e estudantes, mas de todos os segmentos sociais.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Falta de educação compromete desenvolvimento do Brasil, diz ONU

O Índice de Desenvolvimento Humano faz 20 anos e muda variáveis que compõem o critério educação. Brasil fica longe de líderes nesta área, que desempenha cada vez mais um papel estratégico no desenvolvimento nacional.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas completou 20 anos com nova metodologia e um relatório sobre iniciativas marcantes nas últimas duas décadas. O Brasil - que este ano ficou na 73º posição entre 169 países avaliados - é citado 15 vezes, quase sempre em trechos positivos sobre renda e diminuição da desigualdade social, mas quando o assunto é educação as duas citações são negativas.

Elites relutantes

Na primeira, o relatório diz que “um estudo de atitudes sobre educação entre elites brasileiras durante os anos 90 mostrou que as elites são frequentemente relutantes em ampliar as oportunidades de educação, pois trabalhadores educados seriam mais difíceis de gerenciar”.

A persistência da exploração do trabalho escravo no Brasil, cujas vítimas são trabalhadores analfabetos ou de baixa escolaridade, é emblemática da mentalidade reacionária das classes dominantes brasileiras. O trabalhador mais educado evidentemente desenvolve uma consciência mais elevada e é também menos propenso à super exploração capitalista.

Por esta e outras razões, a educação é um tema caro ao movimento sindical. No documento aprovado na Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, realizada no dia 1º de junho em São Paulo), as centrais sindicais propõem destacar uma parte remunerada da jornada semanal de trabalho para combater o analfabetismo e elevar o grau de escolaridade da classe trabalhadora.

Desigualdade

O documento da ONU também critica a baixa escolaridade geral e a diferença no acesso ao ensino entre pobres e ricos. “Anos médios de escolaridade são muito mais baixos no Brasil (7 anos) que na Coréia do Sul (12 anos), mas os dois países têm perdas de desigualdade similares na educação (26%).”

O 20º IDH marca mudanças na composição dos indicadores. O índice continua sendo baseado em saúde, educação e renda. No entanto, o que é levado em conta mudou no quesito educacional.

No antiga metodologia, eram utilizadas as variáveis “alfabetização”, considerando o total da população que sabia ler e escrever, e “matrícula combinada”, que verificava quantas das pessoas em idade de estudar estavam na escola. Os critérios, adotados quando o ranking começou nos anos 80, eram criticados porque, com o avanço na universalização do ensino, todos os países ricos e muitos dos emergentes, incluindo o Brasil, tinham boas médias nos dois quesitos.

Brasil piora com novos critérios

A partir deste ano, o novo modelo usa outras duas variáveis: os “anos médios de estudo”, levando em conta a população com mais de 25 anos e os “anos esperados de escolaridade”, que avalia, conforme o sistema de ensino do país, a rede educacional oferecida e os índices de matrículas observados, bem como quantos anos uma criança que vai iniciar a vida escolar deve permanecer estudando.

O Brasil está longe dos melhores índices nos dois critérios. A média de anos de estudo dos brasileiros com mais de 25 anos é de 7,2 anos contra 13,2 nos Estados Unidos, que lidera neste quesito. Para as crianças que estão entrando na escola agora, o Brasil tem a expectativa de que permaneçam estudando por 13,8 anos, enquanto a campeã é a Austrália, onde espera-se que as crianças estudem pelos próximos 20,6 anos.

Ciência e produção

Em função do próprio desenvolvimento das forças produtivas e da transformação da ciência em força produtiva direta, conforme previu Karl Marx, a educação é hoje um fator humano fundamental para o desenvolvimento econômico, a evolução da ciência, da tecnologia e da pesquisa.

O maior ou menor grau de educação de uma nação é definidor da posição desta na divisão internacional do trabalho, nível de produtividade relativa e incorporação de valor nas cadeias produtivas. O “apagão” de mão de obra qualificada na indústria no Brasil é, em certa medida, reflexo da baixa escolaridade média dos brasileiros. O fato de que o país está se especializando em commodities também tem a ver com a falta de educação.

Além da mentalidade reacionária de setores das classes dominantes, o problema tem um outro nome: investimentos. O Brasil investe muito pouco em educação. A despesa per capita da Coreia do Sul com ensino é o dobro da nossa. A esperança é de que recursos do pré-sal sejam canalizados à área com o objetivo de reduzir a distância que nos separa das nações mais avançadas nesta questão fundamental. Trata-se de um problema vital para o desenvolvimento nacional.

Da redação, Umberto Martins, com agên

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Elevar nível de consciência política, grande desafio!

do portal vermelho
Augusto César Petta *
Durante a campanha eleitoral, ao abordar trabalhadores e trabalhadoras para convencê-los a votar em candidatos do campo progressista, pudemos observar reações diversas. Gostaria de destacar duas contraditórias entre si:

1. a valorização do voto como arma importante para manter ou alterar os rumos do país, e para melhorar a sua própria vida;
2. a opinião de que o voto não tem qualquer efeito positivo no sentido de alterar a situação.
Os primeiros consideram essa oportunidade como um momento fundamental da democracia, em que é possível participar de tal forma que o rico e o pobre se igualam, pelo menos, no ato de votar. Independentemente da riqueza material, do gênero, da etnia, da religião, todos têm direito a um voto. Desses que valorizam o voto, o fazem, ou visando interesses individuais, ou visando interesses coletivos, ou ambos.

Já, aqueles que desprezam o valor do voto, justificam a opinião, geralmente citando casos de denúncia de corrupção: “Tanto faz votar em A ou B, não muda nada” , “Eu prefiro não votar para não me comprometer”, “Se tivesse algum candidato que dissesse que quer ser eleito para melhorar a vida dele, eu votaria , porque seria honesto”, e assim por diante.

Desde há muito, ouço pessoas dizerem que “política não se discute”. Certamente é um ditado criado e difundido por membros das classes dominantes. Enquanto o povo tiver uma dose considerável de alienação, melhor para os poderosos. Já que não é para ser discutida, por que os membros das classes dominantes não abandonam a política? Por que investem vultuosas somas para elegerem seus candidatos?

Nessas eleições, também ouvimos muito a opinião de que tanto faz partido A ou partido B, o importante é o candidato. Vai ao mesmo sentido dos que dizem que não há mais esquerda ou direita. Outro argumento que favorece aos que dominam. Deixam de se valorizar os partidos que efetivamente defendem os interesses da classe trabalhadora e os iguala àqueles que defendem os interesses das classes dominantes.

Não fossem essas idéias que são lançadas pelos intérpretes dos interesses dominantes e que penetram nas cabeças de muitos trabalhadores e trabalhadoras, Dilma teria sido eleita no primeiro turno com larga margem de diferença de votos. Se além dos candidatos, as análises se baseassem em programas, projetos, partidos que defendem a classe trabalhadora, certamente a diferença de Dilma para Serra cresceria vertiginosamente. Basta verificar a aceitação do Governo Lula, em que apenas 4 por cento da população o consideram ruim ou péssimo. Se há essa fantástica aceitação, seria normal, não fossem estas falsas idéias que são divulgadas sobretudo pela grande mídia, que, pelo menos, as pessoas que consideram o Governo Lula ótimo ou bom – cerca de 80 por cento da população –teriam votado em Dilma, em função da continuidade do projeto democrático e popular que está sendo implementado no Brasil.

Agora, o essencial é participarmos da batalha para a eleição de Dilma no segundo turno, aplicando todas as nossas forças para convencer as pessoas sobre a importância da continuidade e do aprofundamento do projeto implantado pelo Governo Lula. Já nesse processo, é fundamental trabalharmos pedindo o voto, mas ao mesmo tempo contribuirmos para que os trabalhadores e as trabalhadoras possam elevar o nível de consciência política. Essa elevação é fundamental na batalha política em curso, assim como em todas as outras que virão.

Marx já dizia que os valores dominantes de uma época são os valores das classes dominantes, mas que cabe aos dominados se unirem para se libertarem dessa dominação. E essa libertação depende do nível de consciência política que os dominados adquirirem. Trata-se de um combustível essencial para essa luta.

* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex- Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Educação de qualidade será prioridade no Brasil, garante Dilma

O Vermelho inicia nesta sexta (2/7) a publicação de uma série de matérias abordando a relação entre educação e desenvolvimento nacional. O tema também ocupa um lugar destacado no debate eleitoral em curso. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defende a ampliação dos investimentos na área e enfatiza a necessidade de valorizar os educadores.

Série de matérias da Reportagem Especial Educação abordam a relação entre educação e desenvolvimento nacional
O avanço da produtividade do trabalho e a progressiva transformação da ciência em força produtiva direta, em linha com a previsão de Karl Marx, conferiram à educação um papel estratégico no desenvolvimento da humanidade e das nações. Estudos realizados por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que quanto maior o grau médio de escolaridade de um país maior o valor agregado à produção por intermédio do trabalho do seu povo, ou seja, maior o PIB. Para alguns estudiosos, a escola foi o principal meio de consolidação do chamado Estado-nação, que nasceu e se expandiu no capitalismo

Escolaridade, salário e renda


Estudos da ONU indicam que quanto maior o grau médio de escolaridade de um país maior o valor agregado à produção
O rendimento e a retribuição do trabalho dependem da educação. As estatísticas indicam que os salários tendem a crescer na medida em que o grau de escolaridade se eleva. Isto se explica, em parte, pela qualidade superior que o ensino confere à força de trabalho, revelando-se aí um meio de mobilidade e ascensão social, ainda que nas condições adversas do capitalismo.

A oferta de postos de trabalho também parece ser influenciada pelos anos de estudo, muito embora o desemprego no capitalismo cresça de forma objetiva, alimentado pelas crises e pelo avanço da produtividade do trabalho, que se traduz na substituição de trabalho vivo por trabalho morto ou, em outras palavras, de homens e mulheres por máquinas.

A este respeito cabe destacar que as concepções que atribuem o desemprego ao baixo nível de escolaridade têm o propósito de eludir o caráter objetivo deste flagelo social no capitalismo e mascarar suas verdadeiras causas, radicadas na lógica implacável das relações de produção capitalistas, guiadas pelo afã insaciável de trabalho excedente ou mais-valia. Os ideólogos do sistema lançam mão de argumentos falsos para atribuir a crise do desemprego ao próprio trabalhador, que não estaria preparado para enfrentar a “nova economia .com” e viver na “sociedade do conhecimento”.

De todo modo, a crítica dos pontos de vista neoliberais sobre formação e empregabilidade não implica desconhecer o significado extraordinário da educação para o desenvolvimento.


A educação se transformou num diferencial fundamental no relacionamento econômico e político entre as nações
Cientistas, universitários e pesquisadores

Neste terreno, assume especial importância o ensino técnico, o ensino superior e os investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia. É também possível avaliar o grau de desenvolvimento de uma nação pelo número de cientistas, estudantes universitários e pesquisadores que forma, bem como das patentes que emite, pois daí se deduz a maior ou menor produtividade e competitividade do trabalho nacional.

Por estas razões, a educação se transformou num diferencial fundamental no relacionamento econômico e político entre as nações e base para uma perversa divisão internacional do trabalho, na qual as potências capitalistas (EUA, Japão, Alemanha, França e Inglaterra, entre outras), mais ricas e educadas que o antigo 3º Mundo, buscam consolidar a condição de vendedores de mercadorias com alto valor agregado, por incorporar mais tempo de trabalho científico, e compradoras de commodities, intensivas em trabalho simples, perpetuando uma relação de exploração fundada no que alguns economistas caracterizaram no passado como troca desigual.

Convém ressalvar que a valorização das matérias-primas decorrente da demanda da China (que se transforma a olhos vistos na principal potência industrial do planeta e já é a primeira no ranking mundial das exportações), a decadência do dólar e a crescente sofistificação tecnológica da produção no setor primário e na indústria extrativa são fatores que influenciam os preços relativos do comércio internacional a favor dos países mais pobres (incluindo o Brasil). Mas não é prudente confiar na perenidade desses fatores, que nos últimos anos produziram a alta das matérias-primas, em detrimento dos manufaturados. Não custa recordar que a crise do capitalismo mundial (ao conter a demanda mundial, inclusive da China) provocou uma forte reversão da valorização das commodities.


O presidente Lula em evento com o Ministro da Educação, Fernando Haddad
Avanços e deficiências

Assim, a educação deve ser entendida como um fator chave na evolução das sociedades, que afeta tanto o ritmo de produção e crescimento dos PIBs quanto a distribuição de renda e a forma de inserção das economias ditas emergentes num mundo a cada dia mais globalizado. É uma área na qual o Brasil avançou nos últimos anos, sobretudo durante o governo Lula, que priorizou os investimentos na educação profissional e superior, conforme indica matéria da jornalista Luana Bonone nesta série.

Mas as deficiências e os problemas são muitos e não devem ser negligenciados. É preciso avançar muito mais. Embora em crescimento, o grau médio de escolaridade da população ocupada com mais de 15 anos é baixo em relação aos países capitalistas mais avançados e mesmo a vizinhos nossos da América Latina (7,2 anos de estudo em 2006, sendo 8,1 para brancos, 6,4 para os negros e 6,2 para os pardos, segundo estatística e classificação do IBGE).

O analfabetismo, esta vergonha nacional, em pleno século 21 aflige e humilha um exército de 14 milhões de brasileiros e brasileiras. A educação pública, relegada ao último plano de prioridades pelo neoliberalismo, ainda se encontra num estado deplorável. O último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), apesar de registrar significativos avanços do governo Lula em muitos terrenos, revela que o aluno da escola pública completa o ensino fundamental com três anos de atraso em relação aos estudantes daqueles estabelecimentos de ensino que Karl Marx já classificava de fábricas privadas da educação, que vendem seu produto ou serviço como mais uma mercadoria e cujo objetivo primordial é a produção de mais-valia.


Professora da rede pública apresenta seu contra-cheque
Valorização do educador

Nessas condições, de superioridade do ensino privado, é inevitável a reprodução do processo de desigualdades, injustiças e discriminações entre as classes e segmentos sociais e no interior da própria classe trabalhadora (com o grande leque salarial), lógica que contamina também o desenvolvimento das regiões.

As famílias mais pobres (constituídas em sua maioria por negros e pardos, nortistas e nordestinos) não têm poder aquisitivo para adquirir a mercadoria relativamente cara ofertada pelo ensino privado e ficam condenadas a uma educação de (muito) pior qualidade. A solução para este problema é democratizar o acesso à educação de qualidade, que o Estado deve assegurar como um bem público, gratuito e universal. A educação não deve ser transformada em mais uma mercadoria.

Um dos principais fatores que explica o contraste entre escolas públicas e privadas é a remuneração dos professores. As empresas cobram um preço salgado pelo serviço e pagam melhor, conseguindo com isto contratar os melhores profissionais. As instituições públicas remuneram mal, por consequencia, recrutam professores com jornadas extenuantes (em cinco ou mais escolas), sem tempo e estímulos para aprimorar a qualidade das aulas.

Evitar o retrocesso

Os avanços verificados ao longo dos dois governos Lula são notórios e incontestáveis. O piso nacional do magistrado, contestado por governantes conservadores, especialmente do PSDB, é um deles. O Ideb, divulgado 2º feira (5/7), indica que de 2005 a 2009 a diferença entre a rede pública e a particular caiu em todos os níveis pesquisados, embora ainda seja gritante. O novo índice mostra uma evolução positiva da qualidade da educação pública no período mencionado, mas o quadro geral não é nada bom. Só 5,7% das escolas do ensino fundamental alcançaram a nota 6, nota considera sinônimo de qualidade e média registrada nos países que compõem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para ampliar as conquistas parece ser indispensável evitar o retrocesso neoliberal e reverter o processo de privatização, que foi exacerbado nos anos 1990. Dilma Rousseff, candidata que dá continuidade ao projeto Lula e é apoiada pelos movimentos sociais, compreende a importância da educação para o desenvolvimento nacional e promete prioridade para a área.
“Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento e na justiça social”, afirmou em recente pronunciamento. “Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso – da creche a pós-graduação”, prometeu.


Passeata realizada no Rio de Janeiro, em março deste ano, pela aprovação de 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a Educação. Foto: Vitor Vogel
Papel dos movimentos sociais

A eleição de Dilma é um passo indispensável, mas a história sugere que os movimentos sociais têm um papel fundamental a desempenhar na luta por uma reforma progressista da Educação, que não será viável sem um substancial aumento da intervenção do Estado e dos investimentos públicos. Isto fica evidente na perspectiva que se criou de uma promissora ampliação desses investimentos, com a conquista do fim da DRU da Educação, o que em 2011 vai liberar cerca de 11 bilhões de reais para gastos públicos com ensino, e a vinculação de 50% do Fundo Social do pré-sal a aplicações na área, definida recentemente pelo Congresso Nacional e comemorada pela UNE como uma importante vitória do movimento estudantil e do povo brasileiro.

Ao lado disto, é preciso destacar a proposta incluída pelas centrais na “Agenda da classe trabalhadora pelo desenvolvimento com soberania e valorização do trabalho” de destacar uma parte da jornada de trabalho para a educação, o que vai contribuir para erradicar o analfabetismo e elevar o grau de escolaridade da classe trabalhadora brasileira.

A luta e demandas do povo pela universalização de uma educação pública e gratuita de qualidade estão em sintonia com os interesses nacionais e podem descortinar novos horizontes e paradigmas para a Educação, fator a cada dia mais estratégico para o desenvolvimento da humanidade, das nações e das potencialidades, autonomia e liberdade do ser humano.

Da redação, Umberto Martins

Fonte: Portal Vermelho





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