Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


domingo, 31 de maio de 2009

Falta estrutura nas escolas do município e do Estado

31/05/2009 - Tribuna do Norte (Priscilla Castro - Repórter)


As deficiências da educação pública do Rio Grande do Norte estão em todos os setores das escolas da rede estadual e municipal. Quando não falta professor, falta material; quando tem material, falta mobiliário; e quando aparenta ter tudo, falta estrutura adequada nos prédios escolares. O técnico em engenharia da Secretaria Estadual do Rio Grande do Norte, Daniel Farktt, disse que os maiores problemas estruturais estão no acesso físico à escola, na drenagem dos pisos e nas instalações elétricas e sanitárias.

Na Escola Estadual Floriano Cavalcanti (Floca), em Mirassol, os alunos reclamam das goteiras dentro da sala de aula. “Quando chove, é água pingando em cima da gente, sem falar nos corredores que ficam todos alagados”, disse o aluno Adson Douglas. A falta de ventiladores, de cadeiras e de portas nos banheiros foi apontada como outros problemas pelos estudantes. -A diretora Ohara Tereza da Silva reclamou ainda da deficiência de profissionais. Para os 1.040 alunos da manhã, existem apenas dois pedagogos. A mesma situação se repete no turno da tarde.

Já na Escola Estadual Francisco Ivo, no Alecrim, o problema persiste há mais tempo. O ginásio esportivo está em desuso há cinco anos, quando a cobertura da quadra foi roubada. O local só não fica abandonado por causa dos alunos. No intervalo entre as aulas e no final do horário da manhã, Heriberto Valentim se arrisca jogar descalço no chão ensopado para ter o lazer, que deveria ser oferecido pelo colégio. “A gente não tem outro canto pra jogar. Eu trago a bola de casa e essa é a hora de se divertir aqui. Eu já me cortei correndo no chão, mas não tem problema não”, contou o aluno de 14 anos.

De acordo com Jorge Henrique, também de 14 anos, se é ruim jogar na chuva, no sol é ainda pior. “Fica muito quente, a gente fica morrendo tentando correr”. O diretor da escola, Galeno Lima, contou que os reparos estruturais sempre demoram a ser feitos. “Quando as salas ficaram com o forro do teto ameaçando cair, demorou uns seis meses para que o o conserto fosse realizado”, contou. Na Escola Municipal Professora Joseane Coutinho Dias, na Zona Norte, o ano letivo ainda nem começou. Inaugurada em abril deste ano para receber os alunos excedentes da Escola Municipal Amadeu Araújo, as salas estão fechadas porque faltam carteiras, quadros, lápis e outros materiais básicos para os alunos. São 400 alunos matriculados e mais 75 na lista reserva na espera.

De acordo com a diretora Vívian Rodrigues, todas as medidas oficiais já foram tomadas, mas a escola ainda está aguardando equipamento. “Não podemos receber professor porque não tem como ele dar aula, não podemos encomendar a merendeira porque não tem fogão nem geladeira. A gente não pode fazer nada por enquanto”. Os pais dos alunos aparecem constantemente na escola para saber quando os filhos poderão assistir aula.

Insatisfação é geral na Lia Campos

A recente reforma da Escola Estadual Lia Campos, no Alecrim, não foi suficiente para resolver todos os problemas. Os professores estão insatisfeitos com o salário, trabalho, mobiliário e recursos. “Recebemos carteiras e lousas para os alunos, mas as mesas do diretor e dos professores são velhas, caindo aos pedaços, cheias de cupim. O fogão, então, nem se fala. Nós estamos tentando tapar o sol com a peneira”, disse a supervisora educacional da escola. Os professores de nível superior ainda estão recebendo como nível médio. “Os professores formados nem piso salarial tem. Somos todos mal pagos e desvalorizados. É tudo uma balela”, reclamou a supervisora. Além disso, a mudança da carga horária de 40 para 30 horas semanais não foi bem aceita. “Nós ganhávamos R$950 pelas 40 horas, agora ganhamos R$712 pelo novo horário, mas eles esquecem que o professor não está trabalhando só na sala de aula. Em casa, a gente tem que elaborar e corrigir as provas, isso é tempo de trabalho também. Eu que não vou ficar trabalhando de graça”, afirmou o professor de história Djanízio Barros.

Atualmente, existem 126 escolas municipais em Natal. Segundo a assessoria de imprensa da SMS, o número de professores não é mais um problema para a educação da rede municipal. Este ano, houve questões pontuais de falta de professor para as disciplinas de artes, educação física e ensino religioso. O maior desafio apontado pela SMS é a formação continuada dos professores. Hoje, dos 4 mil professores da rede municipal, cerca de 500 não têm curso superior de pedagogia (só estudaram até o Ensino Médio ou se formaram em outro curso). A secretaria, em parceria com o Instituto Kennedy e a UnP, está oferecendo o curso gratuito para regularizar a situação desses profissionais.

Na rede estadual são 760 escolas. A coordenadora pedagógica da Secretaria Estadual de Educação, Lúcia Maria Souza, foi procurada diversas vezes pela reportagem da TN, mas até o fechamento desta edição não retornou nenhuma ligação.

Reformas dependem de levantamento

As escolas que precisarem de reparos e reformas que não forem de urgência, vão ter que esperar mais um pouco. Um Levantamento da Situação Estudantil (LSE) está sendo realizado em toda a rede pública do RN, para que sejam apontados os problemas nas escolas, tanto no campo estrutural como pedagógico. De acordo com o engenheiro técnico do LSE estadual, Daniel Farktt, é preciso primeiro conhecer as falhas. Escolas de 123 municípios potiguares receberão visitas de técnicos em engenharia e pedagogia. Segundo a coordenadora nacional do LSE, Olga Bento, o Programa priorizou os municípios com os piores índices. Natal, Parnamirim e Mossoró foram selecionados por serem as maiores áreas. Até agosto, as 44 cidades restantes devem estar com o levantamento concluído. De acordo com Daniel Farktt, nos municípios menores do interior, três profissionais serão capacitados: um técnico de educação, um técnico de infraestrutura e um técnico de informática. “O LSE funciona como um raio X das escolas para que, numa segunda etapa, os problemas encontrados possam ser solucionados”, disse.

Após essa primeira fase, os recursos necessários para resolver as dificuldades encontradas serão requeridos ao Governo Federal. Para Olga Bento, a medida facilita o uso das verbas enviadas aos estados.

Um comentário:

Arthur disse...

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