POESIA DE MERY MEDEIROS

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

POESIA DE MERY MEDEIROS

IPARANA

ESTOU DIANTE DO SEU MAR
NA IMENSIDÃO DA NOITE CLARA
O SEU PLÁCIDO SILÊNCIO NOS FAZ REFLETIR
PARA REVELAR O NOSSO AMOR À VIDA
E A BELEZA ACARICIANTE DO SEU SUAVE MURMÚRIO

AS NOSSAS FORÇAS DE REPENTE SE REFAZEM
DIANTE DO DESLUMBRAMENTO RADIANTE
DESTE DENÁRIO

É O MAR, QUE ÀS VEZES CALMO
NA SUA PLACIDEZ CRISTALINA
SE AGIGANTA NA SÚBITA
E INESPERADA IRA DOS DESEJOS
ADORMECIDOS E INCONTIDOS
NA EXPLOSÃO DE VOZES SUFOCADS PELAS ALGAS

IPARANA - CE