Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


quinta-feira, 11 de março de 2010

George Câmara: O Dia da Poesia e as Lutas de Hoje

Noticias11 de Março de 2010 - 8h54
Entre as datas comemorativas que temos em nosso calendário, uma das mais expressivas é sem dúvida o 14 de Março, Dia Nacional da Poesia. Como gênero literário de beleza ímpar, que melhor expressa o sentimento das pessoas, a poesia é considerada por muitos como a “arte da linguagem humana”, do gênero lírico.

Sua forma de expressão, seja por meio do ritmo ou da palavra cantada, chega a transformar a fala usual em recursos formais de estética singular, através das rimas cadenciadas. Ou mesmo pela combinação de palavras sem o formalismo da métrica.

Para alguns estudiosos do tema, existem três tipos de poesias: a existencial, que retrata as experiências de vida, a morte, as angústias, o sofrimento; a lírica, expressando as emoções das pessoas; e a social, cuja temática principal se refere às questões de natureza social ou política.

Estamos tratando da manifestação literária que mais relaciona beleza com emoção. Por essa razão, permeia o universo da experiência humana de forma tão marcante e tão inesquecível. Quem melhor do que o poeta consegue imortalizar os sentimentos? De Bertolt Brecht a Olavo Bilac, de Shakespeare a Camões, de Maiakóvski a Neruda, registra-se a fascinante trajetória humana na sensibilidade dos versos.

Quem não se delicia com a simplicidade e a beleza das canções do poeta potiguar Chico Elion com “Ranchinho de Paia”? Ou com “Praieira”, do nosso Otoniel Menezes? Temos a alegria de compartilhar este mesmo chão com Jorge Fernandes e Ferreira Itajubá. E já que estamos tão próximos do Dia Internacional da Mulher, como não citar a poesia ousada de Auta de Souza, Zila Mamede e Nísia Floresta? O povo potiguar é mesmo privilegiado, nessa matéria.

A poesia só combina com o bem. Se alguém quiser fazer o mal a outrem, certamente a poesia não será o instrumento mais apropriado para tal. Mesmo quando trata das situações ou dos sentimentos mais vergonhosos do ser humano, não é para enaltecer, mas para protestar contra mazelas como as injustiças, as desigualdades, a miséria e a fome. Ou para criticar o ódio, a inveja, a cobiça e a ira. Ou até para denunciar a traição, a covardia e a frieza da indiferença.

O Dia Nacional da Poesia, não por acaso, coincide com a comemoração do nascimento do grande poeta e escritor Antônio Frederico de Castro Alves, que nasceu em 14 de março de 1847, na Fazenda Cabaceiras, a poucas léguas de Curralinho, na Bahia. Quando este morreu aos 24 anos, no dia 6 de julho de 1871, o também poeta Manuel Bandeira considerou a perda da “maior força verbal e a inspiração mais generosa de toda a poesia brasileira”.

Castro Alves ficou conhecido como o “poeta dos escravos”, tendo lutado incansavelmente pela abolição da escravidão. Além disso, era também um grande defensor do sistema republicano de governo, pois o povo é que deveria eleger o seu presidente por meio do voto direto e secreto.
Sua indignação no tocante ao preconceito racial ficou imortalizada na poesia “Navio Negreiro”, chegando a fazer um protesto contra a situação em que viviam os negros. Esses versos finais que se seguem ilustram o seu senso de justiça.

“... Auriverde pendão de minha terra / Que a brisa do Brasil beija e balança / Estandarte que a luz do sol encerra / E as promessas divinas da esperança / Tu que, da liberdade após a guerra, / Foste hasteado dos heróis na lança / Antes te houvessem roto na batalha, / Que servires a um povo de mortalha!...”

Inspirados nos que lutaram no passado contra as injustiças, devemos continuar na luta hoje e, parafraseando Castro Alves, nunca é demais repetir: “... Andrada! arranca esse pendão dos ares! / Colombo! fecha a porta dos teus mares!”


George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (11/03/10) www.georgecamara.com.br

Nenhum comentário: