As elites dominantes no Brasil sempre procuraram afastar o povo da política. É como se dissessem aos representantes do povo e aos movimentos populares: ''Deixem conosco estas tarefas de legislar e dirigir o país!'' Ou como sintetizou Raymundo Faoro em seu Os Donos do Poder, ''poucos dirigem, controlam e infundem seus padrões de conduta a muitos''.
Durante vários períodos de exceção, Faoro conclui que a autocracia autoritária operou sem que o povo percebesse seu caráter ditatorial, só emergente nos conflitos e nas tensões, quando os órgãos estatais e a carta constitucional cederam ao real, verdadeiro e atuante centro de poder político, Em última análise, a soberania popular não existiu, senão como farsa, escamoteação e engodo.
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, um novo ciclo foi inaugurado, e cresceram as chances de líderes populares serem eleitos para o Parlamento brasileiro. Entretanto, os grandes meios de comunicação do Brasil - articulados com os setores mais reacionários e conservadores - bombardeiam a população tentando demonstrar que todos os políticos são corruptos e devotados a interesses pessoais sem compromisso com os eleitores que os conduziram aos diversos níveis de representação popular.
Desta forma, procuram incompatibilizar os eleitores com seus representantes e fomentar acordos de cúpula que resolvam as necessidades parlamentares ligadas às classes dominantes.
Agora, no dia primeiro de fevereiro, mais uma vez estará em jogo a direção da mesa da Câmara dos Deputados. E todas estas questões estão em debate, especialmente sobre que caminho o Parlamento brasileiro deve seguir.
Em entrevista à jornalista Dora Kramer, de O Estado de S.Paulo, o candidato a presidente da mesa da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) afirmou que será preciso reverter a tendência atual do Parlamento, que deve sacudir a poeira e dar a volta por cima. Ele acha que a Câmara tem se tornado refém das corporações, ficou mais submissa aos ditames do Executivo e atuou a reboque do Judiciário. O desafio ''de fundo'', disse, é o Legislativo retomar o papel de protagonista como um dos Poderes da República e trabalhar de acordo com as demandas da sociedade. E não, como hoje, agindo a partir da pressão das corporações, ''públicas e privadas''.
Aldo argumenta que ''se você perguntar a um cidadão da Paraíba ou do Rio Grande do Sul quais são as suas grandes preocupações, ele certamente não dirá que são as medidas provisórias, a necessidade de mais vagas para vereadores, cotas raciais ou a urgência de correção salarial para esta ou aquela categoria profissional''. Mas o cidadão certamente dirá, pensa ele, que ''é a saúde pública, a falta de segurança, a educação deficiente, os impostos excessivos e, se preocupação política houver, será a crítica à conduta auto-referida e distanciada dos partidos''.
''Portanto, o que a Câmara tem de fazer é atuar sobre estes grandes temas, dar atenção ao que representa realmente um clamor social. Hoje a instituição não se prenuncia sobre saúde, educação e segurança nem faz as reformas necessárias. Na política, fala para dentro e, na tributária, tenta resolver em um mês problemas que levaram 200 anos para ficar do tamanho de hoje'', completa o deputado que está concorrendo com o apoio do Bloco de Esquerda.
Ele reconhece que presidiu a Câmara, na gestão anterior, em meio a uma violenta crise. Era impossível prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse mensalão, sanguessugas e vampiros. Mesmo assim, quando as lideranças se dispuseram a sentar, conversar, negociar e tocar assuntos importantes como a lei das microempresas, trabalharam em consonância com a vida real. Por isso, garante que não existe a possibilidade de desistência de sua candidatura. ''Nenhuma'', enfatizou. Nem se o PT pedir, Insistiu a jornalista. E Aldo respondeu: ''A modéstia constrange, mas não impede de constatar que, no tocante à viabilidade de votos, mais vantajoso para o PT hoje seria me apoiar''.
Portal Vermelho
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