Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


domingo, 9 de maio de 2010

Laços de sangue e de amor ao carnaval


Rodrigo Sena

Maria Nazaré Fernandes de Souza, 104 anos, carnavalesca, passista e madrinha da Escola de Samba Malandros do Morro é mãe, avó, bisavó e tataravó; 7 filhos, 23 netos, 42 bisnetos e 16 trinetos.Para quem acha que disciplina se obtém com dureza, a carnavalesca Maria Nazaré Fernandes de Souza, 104 anos, mais conhecida como dona Nenén, apresenta outro molde de conquistar o respeito e amor dos descendentes: a alegria da folia. O trecho cantado pelos Novos Baianos - “Nasci com o samba. No samba me criei. E do danado do samba nunca me separei” - poderia ter sido inspirada nesta família de sete filhos, 23 netos, 42 bisnetos e 16 tataranetos que entre outros costumes familiares, cultivam o amor ao carnaval.

Na casa em que tudo acaba em batucada, as divergências inerentes as realidades de mundo em que foram criados quase sempre rendem boas histórias e exemplos contados pela centenária. Algumas experiências como o diálogo aberto, a atribuição de responsabilidades desde pequenos e as reuniões que acabam em festas são preservados nas quatro gerações. Outras, como manter os filhos prisioneiros em casa, garante a filha mais velha Maria do Carmo Fernandes de Souza, 70, não se aplica a realidade atual. “Fiz o inverso, deixei meus quatro filhos irem e virem e nunca me desobedeceram os horários estipulados”, diz a filha . Filho que cresce solto, adverte a tataravó, se cria preguiçoso e vadio e sofre quando sai de casa. “rua não tem nada a oferecer a criança”. As maucriações, observa, são passíveis de boas palmadas. Toda mãe, uma vez na vida, deve dar uma surra que faça o filho entender que o que fez é errado”.

A lição se reflete na criação dos tataranetos Aline (14), João Matheus (8), Patrick(4), Tierry (3) e Marcos Vinícius, 1 anos, filhos da bisneta Ana Cláudia Fernandes da Silva, 28. Vulneráveis a situações de risco, ela considera a tarefa de ser mãe mais difícil do que quando dona Nenén iniciava a prole. “Não gosto de vê-los na casa dos outros”. A liberdade a que teve direito precisar ser melhor assistida. Grávida aos 14 anos ela prefere garantir que a infância e adolescência dos filhos não seja interrompida.

Em meio a alegorias e enredos, a obediência dos filhos foi erguida em meio a firmeza para mostrar que “ser alegre é bom, mas nem toda alegria convém”. A idade também não privou das decisões da família. “Até hoje, diante de situações graves todos vem se aconselhar com ela”, confessa a neta Rosemary Fernandes da Silva, 44, mãe de Ana Claudia. Neste dia das Mães, a madrinha da escola de samba Malandros do Morro, será homenageada pelos passistas.

Matriarca: Maria Nazaré Fernandes de Souza, 104 anos, carnavalesca, passista e madrinha da Escola de Samba Malandros do Morro é mãe, avó, bisavó e tataravó; 7 filhos, 23 netos, 42 bisnetos e 16 trinetos.
FONTE: TRIBUNA DO NORTE

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