Maior desafio: a luta em defesa do piso salarial



Educação e desenvolvimento precisam ser prioridades de forma concreta

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanha, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, ele eleva por si: luz do balão.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

George Câmara: Semana da Pátria - Desafios de ontem e de hoje

Conta a historiografia oficial que um fidalgo português, empunhando uma espada às margens do Riacho do Ipiranga, há 187 anos, proclamava a independência do Brasil. Era o 7 de setembro de 1822, período marcado pelas crises da época do Brasil Colônia na transição para o chamado Brasil Império.
Tal acontecimento se dá em meio às dificuldades que enfrentava a coroa portuguesa nas suas relações de absoluta submissão à Inglaterra e diante da efervescência interna, sendo impossível controlar os conflitos de toda a ordem que eclodiam pelo Brasil afora.

Era a crise do modelo de acumulação de capital do expansionismo mercantilista, onde a hegemonia britânica se afirmava não apenas no campo industrial e comercial, mas também no terreno da guerra, ao derrotar o império napoleônico, abrindo um novo ciclo de dominação em todo o planeta. O sistema capitalista dava seus passos saindo do período concorrencial e passando para um novo ciclo, muito mais perverso, marcado pela lógica monopolista.

Enquanto isso, o ouro das Minas Gerais financiava a Revolução Industrial inglesa. A reboque de Portugal, o Brasil padecia diante da mais vergonhosa espoliação de um país e de seu povo. Não é à toa que muitas revoltas populares acontecem nesse período, questionando as injustiças. Os principais expoentes das lutas de nosso povo, como Zumbi dos Palmares e Tiradentes, ao lado de tantos outros, são expressões dessas revoltas e dessa resistência.

Mesmo com a proclamação da independência formal, o clima de insatisfação por aqui era intenso e fugia do controle, expondo as fragilidades do novo governo. Ainda que detentor de um duplo poder – Executivo e Moderador – no conturbado processo constituinte de 1824, o príncipe regente não conseguia pacificar os ânimos e sua autoridade estava em permanente questionamento. Da independência à abdicação de Dom Pedro I, em 1831, não houve um só dia sem conflito.

A carcomida coroa portuguesa já não conseguia tocar os rumos do Brasil e, na sua fase imperial, a velha monarquia também já se mostrava ultrapassada. Os conflitos de toda a natureza continuaram e se multiplicaram. A campanha abolicionista expunha as chagas de uma economia escravocrata, de vergonhosa memória. Cem anos depois da Revolução Francesa, dos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, ainda existia a escravidão no Brasil.

Veio a Abolição da escravatura e em seguida a República. Novo ciclo institucional, velhos conflitos. Crise de um modelo excessivamente conservador, cujas contradições se confrontam na Revolução de 1930, onde se coloca no centro do debate a formação do Estado Brasileiro. Como antes, a luta entre o conservadorismo entreguista e o chamado desenvolvimentismo, com suas insuficiências e contradições, submetido ainda à dominação hegemonista. Agora não mais com a Inglaterra à frente, mas com a nova potência imperialista: os Estados Unidos.

Antes e agora, o desafio de construir uma nação. Mais atual do que nunca, a bandeira que se coloca ao povo brasileiro e às forças políticas mais consequentes: assegurar a continuidade do ciclo progressista que se iniciou com a eleição do Presidente Lula em 2002, acelerando as mudanças no pais.

Na semana da pátria impõe-se a reflexão acerca da principal tarefa, qual seja, a efetivação de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, que tenha como centro a elevação da qualidade de vida do povo brasileiro. São os desafios de ontem, às margens do Ipiranga, e de hoje, em cada recanto desse Brasil.



Por George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo

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